CARGILL OBJETIVA AUMENTAR A EXPORTAÇÃO DE GRÃOS PELOS PORTOS DO NORTE DO PAÍS
Entrevista: Clythio Buggenhout
Anuário dos Operadores Portuários do Estado do Pará – SINDOPAR, 2017/2018
Maior companhia de agronegócio mundial de capital fechado, a Cargill tem uma história de sucesso. É um conglomerado que pertence à mesma família que o fundou há 153 anos e é uma das maiores traders agrícolas e produtoras de carne do mundo. Em 2017, alcançou a sexta colocação entre as 500 maiores empresas listadas pela revista de agronegócios Dinheiro Rural.
Em 2016, a subsidiária brasileira, com 52 anos, faturou R$ 33,8 bilhões com vendas de grãos, óleos e gorduras, amidos, adoçantes, cacau e chocolate. Um crescimento de 0,7% em relação ao ano anterior, que arrecadou R$32, 1 bilhões. A receita ficou atrás somente da matriz americana, que somou US$ 110 bilhões de faturamento.
Nos últimos anos, a Cargill, que tem sede em Minneapolis, nos EUA, reorganizou uma parte do negócio e construiu uma presença mais forte em tecnologia agrícola. Em seis anos, os aportes totalizaram R$ 3,8 bilhões. Nesse período, os setores contemplados foram infraestrutura, logística, portos, armazenagem e inovações.
“Para a companhia, a região Norte é fundamental no escoamento da produção graneleira.”
A capilaridade é outra aposta da empresa, que tem 192 armazéns e transbordos, 22 fábricas em 17 estados, seis terminais portuários e dois centros de inovação. Em 2016, a empresa também cresceu no seguimento de nutrição animal (com receita líquida de R$ 737 milhões), atomatados (R$ 531 milhões) e food servisse (R$ 174 milhões).
A Cargill fecha 2017 com a Estação de Transbordo de Cargas (ETC) concluída em Miritituba, distrito paraense de Itaituba. Ali, a empresa tem capacidade para movimentar 3 milhões de toneladas de soja e milho, que chegam em caminhões e seguem em barcaças pelo Rio Tapajós, até o terminal no Porto de Santarém (PA).
Em 2017, 1,5 milhão de toneladas passaram pela ETC, que demandou R$ 180 milhões em investimentos. Também no ano passado, a empresa finalizou obras no porto para permitir a movimentação de cinco milhões de toneladas de grãos, ante a capacidade de dois milhões de toneladas até então.
Com terminais próprios em Porto Velho (RO), Miritituba e Santarém (PA), e parcerias de transporte com terceiros, a Cargill atingiu seu potencial de operação com a expansão do porto em Santarém.
Nesta entrevista, o diretor de portos da Cargill no Brasil, Clythio Buggenhout, afirma que, desde que entrou na empresa, em 2009, uma de suas missões foi completar a matriz no Norte, isso incluiu não só a ampliação de Santarém, mas principalmente aquisições.
A Cargill construirá seu maior terminal fluvial graneleiro em capacidade de movimentação no Arco Norte, no município de Abaetetuba. Quando as obras iniciam-se e qual o objetivo principal desse projeto?
Clythio Buggenhout: Assim como outras empresas exportadoras presentes no Brasil, a Cargill considera a região de Barcarena estratégica para o escoamento de grãos. Um porto na região completaria a matriz logística da Rota Norte, composta pelos terminais portuários de Santarém (PA), Porto Velho (RO) e Miritituba (PA); e frota de barcaças e empurradores próprios que operam na região. Este local foi escolhido por apresentar características que tornam a operação logística fluvial mais segura e eficiente, com profundidade adequada e acesso viável para as barcaças, além de estar menos exposto aos ventos e ondas, que são fatores importantes para a segurança das operações.
Com relação às obras, o EIA (Estudo de Impacto Ambiental) e o RIMA ( Relatório de Impacto Ambiental), produzidos por empresa especializada , foram protocolados junto a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS) no final de dezembro de 2017, com um prazo inicial de seis meses para uma primeira análise do órgão, mas como é requerido, após análise do órgão de decisão da companhia sobre a continuidade do estudo, o projeto passará por audiências públicas e eventuais adequações necessárias para garantir a sua viabilidade ambiental, porém, não há urgência para a construção. Portanto, como os estudos ainda não foram concluídos não é possível determinar a viabilidade do projeto, bem como uma eventual data de início para sua construção.
Os portos da região têm potencial para se tornarem os principais no transporte de carga do país? O que falta para que isso ocorra?
Clythio Buggenhout: Para a Companhia, a região Norte é fundamental no escoamento da produção graneleira, por isso, investimos R$ 240 milhões nas obras de ampliação do terminal de exportação de Santarém, com propósito de aumentar de dois para cinco milhões de toneladas a sua capacidade anual. E finalizamos o novo terminal de transbordo rodo-fluvial no distrito de Miritituba, município de Itaituba, com um investimento de cerca de R$ 180 milhões. Além disso, investimos cerca de R$ 120 milhões para operar com frota própria de 20 barcaças e três empurradores, neste percurso de 300 km. É um importante indicador de contribuição para que a região se torne um dos maiores corredores de exportação de grãos do país nos próximos anos.
Outras empresas fizeram e farão investimentos em soluções logísticas semelhantes, construindo, aos poucos, uma capacidade de escoamento e exportação que cresce de acordo com a produção de grãos do país. Isso em paralelo com o andamento de soluções logísticas complementares a cargo do poder público, como a finalização da rodovia BR-163 e as obras destinadas a garantir navegabilidade ao Rio Tocantins, por exemplo. Sendo assim, a relevância do escoamento da produção agrícola da região vai aumentar e terá ainda mais relevância, trazendo competitividade ao agronegócio brasileiro.
Como foi o ano de 2017 para a Cargill?
Clythio Buggenhout– No geral, a comercialização de grãos passa por um período de redução de valor e margens nos últimos anos, mas a Cargill é uma empresa experiente e competitiva, que sempre se posiciona com visão estratégica e que mantém seus planos, mesmo nos períodos menos rentáveis.
Quais as perspectivas de investimento e crescimento para este ano?
Clythio Buggenhout- Em termos de grandes projetos, estamos investindo em um terminal na Baixada Santista, em sociedade com outra empresa do setor, o que demandará grandes investimentos em modernização e remodelação. No Pará, estamos em uma fase inicial do projeto de Abaetetuba. Quanto ao crescimento de volumes exportados, a produção nacional crescente aumenta a demanda por exportação, que é o que desejamos cumprir, visando manter nossa presença nesse mercado.
O Porto de Vila do Conde é considerado estratégico para o escoamento da produção regional?
Clythio Buggenhout – O Porto de Vila do Conde, administrado pela Cia. Docas do Pará (CDP), já é grande e, sem dúvida, é absolutamente estratégico para a região, mas não é ponto de escoamento da produção de grãos, seja regional ou vinda de outros estratos do país.
De modo geral, as empresas exportadoras, incluindo a Cargill, optaram por desenvolver projetos privados de terminais de exportação em áreas próximas, por fatores de disponibilidade de áreas, perspectiva de perenidade, da posse permanente desses terminais, e eventuais questões operacionais, como a necessidade de área em terra, arranjo em água da descarga de barcaças e píer de atracação de navios etc. Na visão dessas empresas, assim são mais bem-atendidas em outras áreas, que não a única área ofertada pelo poder público – em licitação para operação de grãos no Porto de Vila do Conde, denominado VDC-29 nos processos licitatórios conduzidos pela ANTAQ.